segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

A terra morta no Semi-Árido do Nordeste


O sertanejo já castigado pela seca passa agora por mais uma provação. Não bastassem os intermináveis períodos de estiagem, um mal muito maior vem se espalhando pelo Semi-Árido nordestino. E deixa seu rastro de destruição, transformando terras férteis em solos esturricados, onde nem a vegetação rasteira da caatinga sobrevive. A desertificação avança como uma verdadeira praga pelo Nordeste. Com efeitos mais devastadores do que a própria seca. Tira do solo a capacidade de produzir, de gerar riquezas. Um fenômeno influenciado pelo clima seco das regiões semi-áridas, mas provocado, sobretudo, pela ação desastrosa do homem no contato com a terra. A grande mancha de terra morta que se espalha pelo Sertão já corresponde a 18 mil quilômetros quadrados - quase o tamanho do estado de Sergipe. Uma área dez vezes maior segue pelo mesmo caminho. O risco de o Nordeste virar um grande deserto assusta, mas, na realidade, a ameaça é ainda pior. Nas regiões desérticas as terras são férteis, com vegetação rica e grande variedade de fauna. Nas desertificadas, a desolação é total. Nem as chuvas conseguem fazer a planta brotar no solo degradado. No cenário devastado, a vida miserável das populações atingidas pelo fenômeno impressiona mais do que a paisagem. Durante dez dias, uma equipe do Jornal do Commercio viajou pelos quatro núcleos de desertificação do Brasil e, em todos eles, a falta de terra boa para o plantio desenha o mesmo quadro de pobreza e sofrimento. Castigados pelo fenômeno, os moradores de Gilbués (PI), Irauçuba (CE), Cabrobó (PE) e da região do Seridó (RN/PB) já perderam a esperança de ver a terra seca voltar a germinar. Quem mais sente os efeitos da desertificação são as populações da zona rural. Sem ter a quem recorrer, os agricultores abandonam suas casas e vão procurar na cidade a sobrevivência que não conseguem mais tirar da terra. Mas, se no Brasil a desertificação avança por quase todo o Nordeste, no resto do mundo a história não é muito diferente. Por ano, 60 mil quilômetros quadrados de solos férteis são perdidos por causa da ocupação desordenada do solo, dos desmatamentos e das queimadas. Um problema que atinge países ricos e pobres e que, de tão grave, forçou a criação de uma convenção internacional para combater seus efeitos.

fonte: Jornal do Commercio
Recife - 14.11.99
por: CIARA CARVALHO
foto: LEOPOLDO NUNES

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